terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Doenças de pele de fundo emocional

Um dos órgãos mais vulneráveis às emoções, a pele sinaliza quando elas fogem ao controle. Ouvir o alarme, procurar um médico e seguir o tratamento nem sempre resolve o problema. Você precisa também equilibrar o que está nos bastidores dessa trama 


Segundo maior órgão do corpo, a pele é mais do que uma embalagem: é um espelho do que acontece co nosco. A naturalista americana Diane Ackerman diz em seu livro Uma História Natural dos Sentidos (ed. Bertrand Brasil) o quanto ela é importante: “A pele respira e produz secreções, protegendo-nos contra os raios nocivos e os micróbios, isolando-nos do calor e do frio, regulando o fluxo sanguíneo, atuando como moldura para nosso tato, auxiliando-nos na atração sexual, definindo nossa individualidade”. Rica em terminações nervosas e dotada de intensa rede de vasos sanguíneos, está tão conectada ao cérebro que sofre os efeitos dos altos e baixos emocionais. Uma equipe da PUC do Rio Grande do Sul achou evidências da sua conexão com o emocional. Na pesquisa, de 2009, psicólogos avaliaram 205 pessoas entre 20 e 49 anos com problemas de pele: 63% haviam passado pouco antes por stress. “Perda de uma pessoa querida, de emprego, brigas na família ou uma cirurgia podem desencadear, por exemplo, a psoríase”, afirma o dermatologista Alan Menter, da Universidade de Baylor, em Dallas, nos Estados Unidos.

Ele estava à vontade para comentar: é o presidente do Conselho Internacional de Psoríase, presente no Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia, que discutiu o tema no Rio de Janeiro há três meses. Mas nem sempre basta recorrer a medicamentos. “Psicoterapia ou métodos que controlam o stress, como acupuntura e ioga, podem ajudar a diminuir os sintomas e ainda previnem novas crises”, afirma a dermatologista Denise Steiner, de São Paulo. Veja as principais doenças de pele que são agravadas pela ansiedade, tristeza, angústia e outros sentimentos.

Vitiligo

Distúrbio em que ocorre perda de melanócitos, células que produzem a melanina, pigmento que dá cor à pele. Surgem manchas lisas e esbranquiçadas.

CAUSA Predisposição genética. O próprio sistema de defesa entra em curto e produz anticorpos que destroem essas células.

EMOÇÕES Fatores como a tristeza por perdas (morte ou separação) podem desencadear ou piorar as manifestações da doença.

TRATAMENTO Para estimular a pigmentação, laser e cre mes (sensíveis à luz, com ação oposta à do protetor solar) combinados à radiação ultravioleta, corticoides e transplante de pele.

NOVIDADES Imunomoduladores, como imiquimod, estão em estudo, mas os resultados mais promissores vêm de um comprimido de Polypodium leucotomos, planta da Costa Rica que em laboratório revelou propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias e a capacidade de equilibrar o sistema imunológico. Eficaz também como protetor solar, ela estimulou a pigmentação na cabeça e no pescoço. 

Acne

Doença inflamatória em que as glândulas sebáceas produzem muito óleo, a ponto de fechar os poros, facilitando o ataque de bactérias. Comparada à acne típica da adolescência, a da mulher adulta provoca espinhas mais inflamadas, doloridas e profundas, sobretudo no queixo, na região da mandíbula e no pescoço.

CAUSAS Hereditariedade, mudança hormonal, calor, cosmético oleoso. Comum entre nós, a acne afeta 56,4% da população.

EMOÇÕES O stress promove uma descarga de cortisol, que estimula a síntese do hormônio masculino e faz a glândula sebácea trabalhar mais”, diz a dermatologista Denise Steiner.

TRATAMENTO Conforme o grau, inclui esfoliante, antibiótico, isotretinoína, anticoncepcional, luz pulsada, luz azul e laser fracionado.

NOVIDADES As últimas pesquisas inocentam o chocolate e a comida gordurosa e apontam outra culpada: a dieta rica em carboidratos e laticínios”, diz Cláudia Maia, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Suspeita-se que a doença esteja ligada a alterações metabólicas: em excesso, a insulina secretada após o consumo de carboidratos talvez favoreça as espinhas. Por essa razão, a metformina, indicada no controle de diabetes, começa a ser testada. 

Alopecia areata

Desordem que produz queda de cabelo súbita, deixando falhas em áreas arredondadas do couro cabeludo.

CAUSA Tendência hereditária. É mais comum entre os 20 e os 50 anos, sendo que 70% dos doentes têm o primeiro episódio antes dos 25. Pode ser passageira ou persistente.

EMOÇÕES Um trauma pode dar início à produção de anticorpos contra o folículo piloso. O stress também é desencadeador.

TRATAMENTO Corticoides no local das falhas, além de xampus, loções, minoxidil tópico ou oral, luz infravermelha ou ultravioleta e, em casos mais resistentes, transplante capilar.

NOVIDADES Por ser doença autoimune (em que a defesa interna ataca estruturas do próprio corpo), a imunoterapia tem sido recomendada nos casos graves. Aplicações semanais de difenciprona estimulam o surgimento de novos fios. 

Psoríase

Inflamação crônica caracterizada por lesões avermelhadas recobertas por escamas esbranquiçadas. Aparecem nos cotovelos, joelhos, no couro cabeludo e nas unhas ou espalhadas pelo corpo. Às vezes ataca as articulações. Dos cerca de 5 milhões de brasileiros atingidos pela psoríase, um quarto enfrenta estágios de moderado a grave, com impacto na qualidade de vida. Segundo o dermatologista Alan Menter, essas pessoas sentem-se discriminadas ou rejeitadas pela aparência.

CAUSAS A genética tem papel importante. Irritações na pele e a baixa umidade do ar podem ocasionar e complicar as crises, que se instalam quando o ritmo de renovação da pele se acelera devido a alterações nas defesas locais.

EMOÇÕES Pessoas tensas e perfeccionistas são mais sujeitas a desenvolver a doença, desencadeada muitas vezes pelo stress.

TRATAMENTO Evoluiu com o surgimento de agentes biológicos, que controlam a resposta imunológica. Eles são indicados em casos graves ou quando os remédios convencionais (metotrexato e ciclosporina) não surtem os efeitos esperados. O mais novo, o ustekinumab, administrado a cada 12 dias por via injetável, pode ser utilizado por longos períodos porque provoca menos náuseas e danos ao fígado. Em casos mais leves, a simples exposição à luz s olar diminui o ritmo de renovação das células da pele.

NOVIDADES Estudos sugerem que a psoríase ameaça o coração. “Quem a desenvolve estaria mais propenso a sofrer de síndrome metabólica, que se manifesta por aumento do colesterol e elevação da pressão arterial”, afirma Cláudia Maia. 

Dermatite atópica

Erupções e crostas na face, no couro cabeludo, nas mãos, nos pés, nos braços e nas pernas provocadas por in flamação crônica. A coceira é tão intensa que há risco de a pessoa se ferir e infectar as lesões. Mais comum em portadores de asma e de rinite alérgica.

CAUSA Todos os estudos apontam para a genética. Banho quente e atrito da toalha podem ressecar a pele e provocar lesões.

EMOÇÕES O stress agrava o problema: surgem novas feridas e mais coceira. A dermatite atinge mais de 3,5 milhões de brasileiros.

TRATAMENTO Cremes ou pomadas à base de cor ticoides; anti-histamínico oral contra coceira; antibióticos orais se houver infecção; exposição à luz ultravioleta combinada com doses orais de psoraleno; imunomoduladores de uso local.

NOVIDADES A descoberta de um fator imunológico, um desequilíbrio das células de defesa presentes entre a pele e a epiderme, alterou a abordagem da doença. Surgiram imunomoduladores, como pimecrolimus (em 2003) e o tacrolimus (em 2005), que permitem melhor controle do quadro. 

Dermatite seborreica

Inflamação da pele que produz vermelhidão, coceira e descamação nas áreas de maior concentração de glândulas sebáceas no corpo: em torno do nariz, nas sobrancelhas, atrás da orelha, na face e no peito. No couro cabeludo, pode acarretar a incômoda caspa.

CAUSAS Não esclarecidas”, diz a dermatologista Jozian Quental, autora de Sua Pele em Boa Forma (ed. Marco Zero). Além de maior produção de óleo, suspeita-se do fungo Pityrosporum ovale. Clima seco e alterações hormonais pioram os surtos.

EMOÇÕES Stress elevado deflagra os episódios. Essa dermatite atinge 18% da população mundial, a maioria entre 18 e 45 anos.

TRATAMENTO Xampus à base de enxofre, piritionato de zinco e cetoconazol, loções capilares com ácido salicílico, resorcina, ureia e cetoconazol, com ou sem hidrocortisona, além de prescrição de anti-inflamatórios e antifúngicos via oral.

NOVIDADES Laser de baixa frequência pode ser usado como coadjuvante no tratamento para reduzir a coceira e a descamação. 

Fonte: Revista Claudia Online - Cristina Nabuco

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